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INTOXICAÇÃO E MORTE

Baleias usam ecolocalização para se alimentar e plásticos literalmente soam como comida

7 de novembro de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Algumas espécies de baleia que ocupam os fundos dos oceanos não usam tanto os seus olhos para buscar alimento. Devido à falta de luz, elas tem que confiar em sua capacidade de ecolocalização. Funciona assim: os mamíferos emitem barulhos debaixo d’água. Esses ruídos viajam e batem em objetos – como a lula que será seu futuro almoço, por exemplo. Quando retornam, o animal sabe a distância que deve nadar até o objeto.

No entanto, um novo estudo sugere que essa busca por comida baseada em sons pode estar levando esses animais a comerem lixo humano, como plásticos. Afinal, o sinal sonoro que um pedaço de plástico retorna para a baleia é muito parecido com o que uma lula, presa comum para baleias, emite.

Cientistas da Universidade Duke, nos Estados Unidos, verificaram que pelo menos nove materiais plásticos encontrados aos montes nos ecossistemas aquáticos têm intensidades acústicas semelhantes ou mais fortes em comparação a animais tipicamente consumidos pelas baleias. Os itens testados incluem cordas, sacos, balões e garrafas.

De acordo com os responsáveis, em alguns casos, esses “erros” de leitura do entorno podem ser graves e até fatais para os grandes mamíferos.

Impossíveis de ser digerido pelas enzimas do organismo, os plásticos enchem os estômagos e intestinos dos animais, impedindo que os alimentos de verdade passem. Um artigo que descreve a descoberta foi publicado em outubro na rirevista científica Marine Pollution Bulletin.

Experimento em alto mar

A fim de verificar como cachalotes (Physeter macrocephalus), cachalotes-pigmeu (Kogia breviceps) e baleias-bicudas-de-cuvier (Ziphius cavirostris) interpretam o plástico submerso, a equipe reuniu lixo coletado de praias em Beaufort. Eles, então, foram colocados sob o transponder do sonar no navio R/V Shearwater do Laboratório Marinho da Duke.

Em comunicado, os pesquisadores indicam que fizeram uma ferramenta para segurar as amostras de plástico a 4 ou 5 metros abaixo do transponder, que estava na parte inferior do barco. Testes acústicos foram conduzidos em três frequências de sonar diferentes: 38 kHz, 70 kHz e 120 kHz, a faixa de sons produzidas por essas espécies de baleias.

Uma máquina, então, mediu a força do eco que retornava de cada item para determinar o que uma baleia poderia perceber. A efeito de comparação, o teste também foi feito com lulas-costeiras-americanas (Lolliguncula brevis), presas comuns desses mamíferos. Os exemplares já estavam mortos, e tinham sido recuperados do estômago de um cachalote encalhado.

Com isso, os cientistas perceberam que tanto as lulas quanto o lixo quase sempre refletiam o mesmo som. “Isso foi bem impressionante, mas explica com certeza o porquê desses animais terem tanta dificuldade em perceber a diferença entre o que é plástico e presa”, explica Greg Merrill, um dos responsáveis pelo projeto, à ScienceNews.

Mudança nas políticas de plásticos

Esses resultados se alinham aos apresentados em junho na Conferência Internacional sobre Acústica Subaquática, em Bath, na Inglaterra. Como lembra a ScienceNews, na ocasião, a bióloga Laura Redaelli e seus colegas demonstraram que a força dos ecos que retornavam de presas naturais estava de fato sofrendo interferência pela presença de plásticos, que acabavam sendo ingeridos pelos mergulhadores profundos.

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“Existem centenas de tipos de plástico, e as diversas propriedades do material, incluindo composição química do polímero, aditivos, formato, tamanho, idade/intemperismo e grau de incrustação, provavelmente desempenham um papel nas respostas específicas de frequência observadas”, escrevem os autores. “Talvez fosse possível reprojetar alguns plásticos para não terem uma assinatura acústica. Mas não acho que essa seja realmente uma opção viável”.

Se redes e linhas de pesca se tornarem invisíveis à ecolocalização, isso pode representar uma nova ameaça ao animal. As baleias que vivem em grandes profundidades já existem há séculos, mas o lixo plástico chegou ao seu mundo apenas nas últimas décadas.

Fonte: Galileu

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